terça-feira, junho 27, 2006

Neste forcei-me a seleccionar citações

A fantástica autora do artigo que "postei" ontem explica porque não viu o jogo Portugal-Holanda. Depois da envolvente descrição da emoção e sentimentos dos pobres vizinhos do nosso serial killer de sta comba dão, após a pérola (que já não "postei", mas podem ler em http://dn.sapo.pt/2006/06/26/sociedade/ha_rio_sofrimento_e_gente_dois_lados.html sob o título "Há um rio de sofrimento e gente dos dois lados") da transcrição da missa de Domingo do pároco local, brinda-nos mais uma vez com a sua opinião que absorvemos "yet again" em êxtase (apesar de, desta vez ser mesmo um artigo de opinião, e não peças de jornalismo isento como as de ontem).

DN de hoje
Desculpem mas é uma boa desculpa

Jornalista Fernanda Câncio

Isto já vai sendo um hábito. (...) Não: é que eu, mais uma vez, não vi o jogo - esse é que é o hábito cada vez mais habitual.Como o tempo nem estava nada de especial, desta vez a desculpa não foi a praia, nem a piscina, nem a esplanada, nem sequer a varanda. Imaginem: desta vez estive a trabalhar.


Será possível que os 90 minutos do jogo tenham sido inspirado aqueles artigos que tanto nos sublimaram?

Passei o fim-de- -semana em Santa Comba Dão, a entrevistar pessoas que conviveram décadas com um homem franzino e prestável, daqueles de quem se diz que são "amigos do seu amigo" e "não partem um prato", a quem nada faltava para ser aquilo a que se costuma chamar "um pilar da comunidade". Um ex-polícia defensor da ética do trabalho que construiu o primeiro andar da sua moradia com as próprias mãos, que plantava vinhas e roseiras e semeava alfaces e criava coelhos e matava porcos e foi eleito pelo PSD para a junta de freguesia e era membro da direcção da casa do Benfica local e que assestou na parede da sua casa o seu mote de vida: "Se tens inveja do meu viver, trabalha, malandro." Que acreditava na trilogia deus-pátria-autoridade, venerava Salazar e a quem só talvez faltasse o fado para fazer o pleno dos três efes, com o seu amor ao futebol e a sua romaria pedestre a Fátima quatro dias depois de ter - alegadamente - asfixiado a sua terceira vítima.

É verdade! Foi a energia transmitida no estádio e em todos os lares tugas que foi absorvida através do espaço que nos rodeia pela autora e, qual musa inspiradora, serviu de catálise às palavras que tanto nos emocionaram às lágrimas, diga-se com verdade.

Se fosse um tipo de cabelo desgrenhado e vestido de cabedal, que fumava charros e coleccionava tatuagens e piercings e frequentava antros de libertinagem enquanto vivia de expedientes e do rendimento social de inserção, é de crer que não se assistisse na sua terra a uma tão devastadora onda de perplexidade e que não se encontrasse necessidade de invocar "o mistério que é o homem" para apaziguar a angústia das almas. Mas imaginar assim o companheiro das patuscadas, dos tremoços e das bujecas e do pendão do glorioso como tenebroso serial killer é coisa do outro mundo.

Se vissem o axn, já sabiam que os metálicos charrados nunca são serial killers, como é óbvio!

A culpa há-de estar alhures - porque crer que é dele é acreditar que podia ser nossa. E a isso, no resto como no futebol, nunca havemos de nos habituar.

Fala por ti, querida... Também não consegui entender esta última referência ao futebol: suponho que será a culpa do insucesso tem de estar sempre nos outros e não em nós, mas não está muito explícito, pois não? Mas devo ser eu, que não tenho este dom queiroziano de entendimento de figuras de estilo. Por mim, acho que até estamos muito evoluídos neste aspecto: pois se a França logo no 1º jogo não ganhou e culpou a relva, e no 2º não ganhou e culpou o árbitro, e no 3º lá conseguiu ser apurada, mas antes já estavam a falar do cansaço dos coitadinhos dos jogadores fanceses pelo esforço prestado nos campeonatos tão difíceis e competitivos em que jogaram durante o ano.
Enfim, vou estar atenta a outras peças desta incrível profissional de imprensa: até agora a gargalhada é certa!

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