Com amor para...C.E.L.

"(...) Um dos lugares que este filho-da-puta especializado em não deixar fazer mais gosta de ocupar é uma secretária: uma secretária de secretaria, ou uma secretária de escola. Toda a secretaria, toda a escola é lugar predilecto deste filho-da-puta especializado em não deixar fazer, porque a secretaria, toda a secretária da mais baixa à mais alta, nãe é, como se supõe, o lugar onde se faz, mas o lugar onde não se faz, onde se sonega, onde se põe por baixo do monte de papel que devia estar em cima, onde desaprecem pistas dentro de pastas, onde se dificulta , se atrasa a entrega, se mexerica, se intriga, se afirma desconhecer o que se conhece e conhecer o que se desconhece; na secretaria se começa a deixar de fazer aquilo para que a vida foi feita e se passa a fazer o que convém à secretaria que se faça, até ao ponto de acabar por nada mais se fazer senão o que serve à secretaria, que é o que não serve as pessoas, e não fazer o que serve às pessoas, que é o que serve à secretaria. A secretaria, toda a secretaria é um lugar de omissão, de omissão de vida, e assim a secretaria é um lugar onde o filho-da-puta tem ocasião de obrar e manobrar, de invocar e convocar, de atar e desatar, ou seja, tem ocasião de desempenhar a sua missão.(...) O lema do filho-da-puta é amar a humanidade em geral e odiar toda a gente em particular. É por isso que aceita que os outros façam, mas só o que ele quer que se faça, aceita que os outros façam o que ele faz, que o imitem, que se imitem uns aos outros..."

In " Discurso sobre o Filho da Puta" - Alberto Pimenta
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